segunda-feira, 8 de maio de 2017

Entrevistamos o Marcos Bastinhas e ele sobreviveu!

Um dia destes entrevistámos o Marcos Bastinhas.
Ora recorde esta beleza de entrevista...

Marcos, muito obrigado por ter aceitado ser entrevistado por nós. Para sua informação, o Marcos é o primeiro cavaleiro com coragem para nos enfrentar. Está com medinho, ou não há nada que o atormente?

É mais fácil tourear um Miura do que responder às vossas perguntas, mas vou encará-las de frente...

Afinal como é mesmo o seu nome artístico? Marcos Bastinhas? Marcos Tenório? M. Bastinhas JR? É que já vimos todos estes nomes em vários cartéis e sentimo-nos um pouco desorientados. Qual deles é o mais bonito? E com qual deles costuma triunfar mais? Tem de haver uma explicação para essa múltipla-polaridade…

Na verdade, depende do sítio onde é a corrida e de com quem vou tourear..
Mas prefiro Marcos Tenório, pois sempre quis que as pessoas me conhecessem como o Marcos Tenório e não como o filho do Bastinhas.

O Marcos é familiar dessa lenda viva da tauromaquia nacional: O comendador Nabeiro! (Graças a ele e aos cafés, não adormecemos nas chatas corridas nacionais!)… Responda-nos então… o Marcos tem uma Nespresso lá em casa, ou isso seria pecado?


Não sou pessoa para criticar os gostos de cada um, no meu caso pessoal mais que pecado seria desleal. Quase como se eu se fosse fazer um estágio na casa de outro toureiro, renegando o maestro com mais de 30 anos de alternativa que, por acaso, é meu pai. Além do mais, a referida marca nunca apoiou a festa brava, coisa que a Delta já fez inúmeras vezes

Sempre disse que o seu pai (o grande Bastinhas) lhe deu total liberdade para escolher a sua profissão. Mas isso da liberdade foi antes ou depois dele lhe ter dado com o cinto e o ter ameaçado deserdar, quando você lhe disse que estava a pensar vender os cavalos e viver unicamente dos cafés?

Pois, foi complicado, porque não sei se sabem mas o meu pai pertenceu aos comandos e quando lhe salta a tampa...saiam da frente! :) No entanto, pouco havia a fazer porque desde que comecei a montar e depois a tourear umas vacas em festas organizadas pelo meu avô, em Campo Maior, sempre soube que queria ser toureiro! Brincadeiras à parte, sempre tive total liberdade e o meu pai ficou contente com a minha decisão, apesar de apreensivo por saber que esta é uma profissão que acarreta muitos sacrifícios, pelos quais ele próprio passou, desde, muito novo, ir a conduzir a camioneta por essa Espanha fora e entrançar e aparelhar ele os cavalos, antes das corridas. Hoje em dia é tudo diferente e eu só tenho a agradecer ao meu pai a facilidade de já ter a máquina montada.

Você deve ter tido uma infância muito feliz! Conhecendo o seu pai como nós conhecemos, assim como as bandarilhas, o seu pai deve ter-lhe dado tudo aos pares! Não? Dois carros telecomandados, duas chupetas, dois livros da Anita…

Sim, tive uma infância feliz, mas os pares ele reservava-os para as praças. Até porque, embora sempre presente, o meu pai nas férias de verão, por exemplo, estava sempre fora a tourear e, então, quem me aturava era a minha mãe.

Nós fomos ao delírio num dia destes, numa corrida onde você toureou com o seu pai! É que, depois de uma lide extraordinária , ambos se apearam em plena praça, deram uma palmadinha nos cavalos e estes seguiram sozinhos para as cavalariças! Isto é coisa para levar muito tempo a treinar? Ou costumam comprar os bichos ao Vitor Hugo Cardinalli e estes já vêm com o número ensaiado?

Leva muito tempo a treinar, e, por vezes, acreditem ou não, aqui na herdade andam os cavalos todos malucos à solta pois ainda não estão no ponto e quando nos apeamos e damos a palmadinha eles lá vão por esses campos fora. ;)
Agora a sério e em jeito de confidência, como falaram na arte circense, há muitos anos quando o meu avô Sebastião ainda era vivo, e tinha uma vida activa nos cavalos, vários circos iam ter com ele a querer comprar alguns cavalos, visto que ele era um excelente equitador, quase um encantador de cavalos.

O Marcos é soberbo no “Piaffe and Passage”! E como é que estamos de zumba e kizomba?

Ora como é que vos explico de forma explícita... tudo o que seja dançar sem o cavalo não tenho vocação nenhuma, mas sou óptimo a ficar sentadinho a beber uma cervejinha.

No dia 10 de Julho de 2008, enquanto você estava a receber a alternativa, nós estávamos no Optimus Alive a ver Bob Dylan. Perdemos alguma coisa que valha a pena? Ou isso da alternativa não é nada que não se resuma num parágrafo?

Antes de mais, perderam uma festa muito bonita com a praça cheia, o que acontece cada vez menos, e perderam a oportunidade de me verem receber tantas flores que dava para abrir uma florista.
Acima de tudo é um dia que fica marcado na carreira de qualquer toureiro, nesse dia termina uma e começa outra etapa, em que temos de lutar e agarrar todas as oportunidades para vingarmos nesta vida.

Você deve ser o único cavaleiro que conhecemos que toureia montado num “Bombom“. Quem é que deu o nome a este cavalo? Temos para nós que deve ter sido alguma miudinha de três anos do infantário do seu filho…

A verdade é que esse cavalo já vinha com nome, mas tenho de assumir que tourear nele é como comer um belo bombom, pois já me deu inúmeros triunfos.
No entanto e como estamos a falar em nomes, sempre é melhor chamar-se Bombom do que Passarinha, ora o Cabo imagine lá o que seria "Marcos Tenório monta a Passarinha.."

Provavelmente, assim como muitos outros colegas, o Marcos deve ser supersticioso. Aquela regra de que o tricórnio não se coloca nunca em cima da cama, também é válida para beliches, divãs e sofás-cama? Ou é só para camas? E é indiferente ser uma cama de casal ou de corpo e meio?

Aplica-se a todo o tipo de mobiliário para dormir, mas são superstições que, por vezes, nem são nossas, mas que as adoptamos porque vemos os mais velhos a fazer e acabamos por ficar com elas, e também dão uma certa misticidade à tauromaquia, é uma questão de cultura taurina.

Há uma coisa que nos entristece! Há cerca de um ano, o Marcos lançou o seu novo site (muito catita, diga-se a verdade!) onde podemos encontrar uma secção de “Merchandising” que ainda hoje diz “BREVEMENTE”. Não seria bom, de uma vez por todas, começar com a venda desse merchandising? Nem sabe o quanto ansiamos por ter uma t-shirt com o seu retrato!

Não se preocupe, porque para o Cabo eu faço questão de enviar t-shirt e um boné, assim que souber para onde... claro!
A questão do merchandising do site é que não queremos abrir esse sector para apenas vender t-shirts, e então estamos em conversações com grandes multi-nacionais para fazerem parceria connosco.

O Marcos tem muito cuidado com a sua imagem! Apresenta-se sempre impecavelmente penteado quando entra em praça. É Gel, cera, ou aguínha benta para chamar o triunfo?

É o que está mais à mão, mas pelo respeito que tenho pela profissão penso que é nosso dever apresentar-nos o melhor possível, para mim vestir uma casaca é uma grande responsabilidade, e se, por vezes, não é possível triunfar com os toiros então que triunfemos com a imagem :)

A sua simpaticíssima esposa, Dália Madruga, escreveu o seguinte no mural do seu facebook “Marcos Tenório, sei que nem sempre sou muito boa a fazer elogios, mas sinto que sabes o imenso orgulho que tenho em ti!”… Acha que ela tem mesmo razão para ter orgulho em si, ou para não variar, as mulheres são sempre umas exageradas?

Sim, as mulheres são sempre umas exageradas... Mas ao escolhermos uma pessoa para estar connosco para a vida temos de lhe ter o máximo respeito e tratá-la da melhor forma, e acredito que se formos felizes a fazer o que gostamos é claro que quem nos rodeia também sente essa felicidade.

Afirmou recentemente numa entrevista que todos os críticos tauromáquicos têm os seus cavaleiros favoritos. Só por isso e por essa coragem, passou a ser você o nosso favorito! E olhe que ao contrário dos outros, você é o nosso favorito sem nos pagar um tostão! E então, quer comentar? Ou avançamos para a próxima pergunta e pronto...?

Não o disse para ferir ninguém, até porque acho normal uma pessoa gostar mais de um toureiro do que de outro, os árbitros também têm clubes de futebol que perdem com as suas arbitragens, é pena que isso não se passe também na tauromaquia, ter a hombridade de se ser justo e verdadeiro, no nosso mundo quando se lê certas crónicas taurinas do pouco que fizeram, são triunfadores.

Por falar nisso, o Marcos costuma ler a imprensa taurina nacional? Quais são as características que, na sua opinião, faltam na imprensa taurina nacional? Tente lá responder a esta questão sem usar a palavra “isenção”…

Não é uma resposta fácil, mas penso que falta um pouco de conhecimento sobre tudo o que rodeia o mundo do toiro, muitos nem sabem o que é preciso para pôr um cavalo a tourear, qual o cavalo adequado a cada tipo de toiro, das dificuldades que cada toiro apresenta, da forma como o cavaleiro constrói a lide, a gestão do calendário de forma a chegar às corridas mais importantes com os cavalos no pico de forma. Não se vê comentários aos detalhes, porque muitas vezes estão nas praças, mas nem para as lides estão a olhar! De qualquer forma, convido, a quem possa interessar evoluir e perceber todo o trabalho que existe por detrás de cada corrida, a vir até Elvas, e passar uns dias na casa de um toureiro para falarem e escreverem com conhecimento de causa.

Cumpre este ano 6 anos de alternativa, o que é uma coisa boa. Seis anos não são assim tantos anos… ainda está a tempo de voltar a trás e optar pelos cafés…

Cumpri 6 anos de alternativa, a 10 de Julho, não são muitos, mas os suficientes para já ter experiências muito boas e poder dizer que tenho a sorte de poder fazer o que mais gosto, o que hoje em dia não é fácil. Tenho a profissão mais linda do mundo, que junta um pouco de tudo, não há monotonia, todos os dias se aprende qualquer coisa e onde se cresce muito como pessoa.

Não sei se sabe, mas se você não souber, nós informamos: Um cavaleiro só é considerado FIGURA quando tiver um par de botas D ´Ornellas. Então e você? Já tem umas? Se não tiver, pode ser que nós lhe consigamos um desconto…

Tem razão Cabo, pelos vistos ainda não atingi esse patamar. E acabo de descobrir que não sabia que existiam assim tantas figuras, a fazer contas às botas...
Mas como gosto de si, faço-lhe outra confidência, na última edição da Golegã, estive no stand que faz as referidas botas e encomendei umas para mim, a metade do preço dessas e quando chegaram ainda lhes pus o meu ferro... Creio que ser figura também é preciso ser inovador e não seguir em rebanho!

Vamos confessar aqui uma coisa... Por algum motivo o escolhemos a si para ser o nosso primeiro cavaleiro entrevistado. (E olhe que havia por aí figuras dispostas a pagar para ter esse privilégio). Mas resolvemos escolhê-lo a si porque o Marcos é realmente uma boa pessoa, humilde, trabalhador e que merece tudo de bom. Como é que uma pessoa de bem como você, sobrevive nesta selva que é a tauromaquia nacional? Usa um alho e uma figa dentro do bolso que fica do lado do coração?

Para mim o mundo da tauromaquia significa muito trabalho, empenho e insistência em fazermos as coisas bem feitas. Preocuparmo-nos connosco e com a nossa consciência e não nos metermos no que não somos chamados, a arrogância e a prepotência não nos levam a lado nenhum, pois o caminho a seguir deve a rectitude e a capacidade de trabalho. Temos de ter objectivos bem definidos e segui-los sempre, pode levar mais tempo, mas havemos de chegar a algum sítio.

Temos aqui este soutien que uma prima nossa, emigrada em França, nos enviou, quando soube que nós o iríamos entrevistar. Ela pede que o autografe. Não se importa? Ou temos de pedir autorização à Dália?

A Dália não se importa, pois sabe separar as coisas. E ter público que nos admira e paga o bilhete para nos ir ver é o que separa um toureiro do outro. Podem mandar vir soutiens ou cuecas, desde que limpinhas, que eu assino :)
 
E pronto, Marcos! Ficar-lhe-emos eternamente gratos por este momento! Vamos partir naquela estrada, não sem antes lhe fazer a pergunta que o mundo espera: Marcos, o que dizem os seus olhos?

Cabo, neste momento um dos olhos não diz grande coisa, pois ainda não vejo muito bem, mas o outro diz que me sinto com uma enorme vontade de voltar as praças, pois um toureiro vive das corridas, esta é a minha vida. E também quero muito regressar para poder honrar esse grande homem e grande amigo que foi António Morgado.
Posso ainda garantir que podem esperar muito de mim, pois sei que ainda posso crescer muito como toureiro e que tenho coisas importantes para fazer na festa!

Aproveitar esta oportunidade para agradecer a todo o público que me apoia, e a vocês pelo privilegio de ser o vosso eleito.

O meu muito obrigado!

Marcos Tenório


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